terça-feira, 2 de março de 2010

A Religião na Grécia e Roma Antiga

A Religião na Grécia e Roma Antiga

Introdução

A religião na Grécia Antiga apresenta uma longa evolução e conseqüentemente uma notável multiplicidade de aspectos.

Em cada cidade-estado havia predileções por determinadas divindades com seu culto e seus rituais próprios.

Acrescentemos a tudo isso a famosa mitologia que tudo impregnava e sob seu manto amplo e variegado esconde explicações da natureza, preceitos, rituais, ensinamentos morais e até fatos políticos.

Já na religião da Roma Antiga, esta desempenhou na vida privada e pública dos romanos importantíssimo papel. Cícero afirmou que “pela religião, é que vencemos o universo” As cerimônias religiosas estavam presentes nos atos praticados no recinto do lar e nas solenidades oficiais. Nota-se que ainda pode ser observado o espírito prático dos romanos que imploravam aos deuses não para honrá-los, mas para conciliá-los.

Proposição: Pretendemos neste trabalho apresentar de forma resumida alguns dos aspectos da vida religiosa da Grécia, como da Roma Antiga, começando, porém pela Religião na Grécia Antiga.

I. A Religião na Grécia Antiga
1. Origens

Problema que tem dado margem a numerosas polêmicas é o das origens da religião Grega. Limitar-nos-emos a indicar os elementos básicos que, com certeza contribuíram para a formação do quadro religioso tal como o encontramos na época clássica. Ei-los:

1) Elementos religiosos indo-europeus importados para a península no decorrer das diferentes migrações.

2) Elementos pré-helênicos principalmente Creto-Micenianos.

3) Elementos orientais.

2. Os Intelectuais Gregos e a Religião

Não falaremos por enquanto das concepções religiosas que encontramos em Homero e Hesíodo. Quanto ao primeiro, lembremos por enquanto, a censura que lhe dirige Platão, no que tange à maneira de representar os deuses: “É necessário representar sempre Deus tal como é, qualquer que seja o gênero da poesia, épica, lírica ou trágica em que aparece o mesmo”.

Píndaro em uma de suas Odes, à Glória dos atletas vencedores exalta os nobres aspectos da religião olímpica e alude às idéias órficas do julgamento do espírito após a morte.

Heródoto revela possuir grande veneração pelas representações místicas vigentes em seu meio.

A obra de Êsquilo inspira-se em temas míticos e em ritos sagrados e tendem a implantar nos corações o respeito do divino.

Sófocles e Eurípedes ao tratarem das lutas psíquicas no conflito dos deveres contribuíram para o desenvolvimento de uma profundeza interior que abriria caminho a um espírito de religiosidade superior a o das crenças tradicionais.

Aristófanes soube conciliar através de suas peças a liberdade do poeta cômico e o respeito pela religião tradicional

Qual a atitude dos filósofos em face da religião? Do ponto de vista religioso podemos salientar como os mais importantes entre os pré-socráticos: Xenófanes, Parmênides e Empédocles. (Depois falaremos de Pitágoras).

O primeiro combateu o antropomorfismo

Em Parmênides sentimos que a procura da verdade se assemelha ou até se relaciona à experiência dos místicos,

Empédocles apresenta-nos uma rica personalidade em que se cruzam e se confundem os ideais do orfismo e do naturalismo.

O Pitagorismo inspirou-se em concepções órfica.

Sócrates, espírito essencialmente religioso, poder-se-ia aplicar plenamente a palavra do Apóstolo sobre o Deus desconhecido (Atos 17:23).

Em Platão impõe-se desde logo, uma tríplice distinção:

1) Crença de Platão na religião tradicional

2) Metafísica religiosa

3) Religião astral

De Aristóteles não sabemos que tenha sido particularmente religioso, porém, sua influência como filósofo foi enorme na futura estruturação de uma filosofia cristã que servisse de base racional para as verdades reveladas.

3. Visão Geral da Religião Grega

Homero. Na época em que foram escritos os poemas homéricos já haviam sido fixados em suas linhas gerais os traços essenciais das lendas concernentes aos deuses.

No culto Homérico encontram-se sacrifícios propiciatórios, se aceita a vida além túmulo. Não se encontra, porém na Ilíada e na Odisséia a religião primitiva dos helenos.

Hesíodo. Ao estudarmos a religião nas obras de Hesíodo, devem ter presente que as mesmas foram escritas por um camponês.

Do sec. VII ao Sec. V – podemos anotar as seguintes características:

1) Manutenção do Panteon Antropomorfismo fixado por Homero

2) A par da tolerância doutrinária no que tange a interpretações das lendas referentes às divindades.

3) Desenvolvimento dos cultos dos Heróis.

4) O sec. VI assiste ao desenvolvimento das religiões secretas somente acessíveis aos iniciados.

A Religião na Grécia Clássica - A Grécia Clássica nos oferece, sob o ponto de vista religioso, um panorama curioso e, de certo modo heterogêneo. Os relatos da mitologia tradicional continuam inspirando os artistas e os literários, mas não exercem influência profunda na vida religiosa do povo.

Época Helenista. - Os deuses tradicionais perdem o antigo prestígio e são substituídos pelo fatalismo.

4. Deuses e Heróis

Vamos enumerar alguns dos deuses e heróis da religião da época:

• Zeus (Júpiter) Era a principal divindade da religião tradicional

• Hera (Juno) Era a deusa nacional da Argólida;

• Atena (Minerva) Filha privilegiada de Júpiter também chamada Palas:

• Apolo (Phoebus Apolo) É o deus da luz, da música, da juventude, da expiação, e da Purificação, da medicina, da adivinhação, e das artes.

• Artemis (Diana) Uma das grandes deusas do mundo helênico;

• Hermes (Mercúrio) Era o mensageiro dos deuses

• Hefestos (Vulcano) Esposo infeliz de Afrodite

• Ares (Marte) deus da guerra

• Afrodite (Vênus) È uma divindade de origem oriental

• Deméter (Ceres) Deusas das terras amanhadas;

• Dionísio (Bacchus, Liber) deus do vinho



Aqui estão alguns dos muitos deuses da religião grega primitiva.



 Passemos agora de forma breve aos heróis:

Homero emprega esta designação para os homens que se distinguiam pela coragem, pela força e pelas façanhas notáveis.

Em Hesíodo essa palavra é reservada para os filhos de um deus e um mortal. O mais célebre dos heróis gregos era Heracles (Hércules).

5. Santuário e festas

Entre os grandes santuários que atraiam multidões do mundo helênico para celebração do culto de certas divindades podemos citar:

• Delos

• Delfos

• Olímpia

• Epidauro

• Elêusis

Entre as grandes festas da antiguidade Grega podemos distinguir as festas pan-helênicas e as festas de cada cidade em particular. Das festas particulares vamos mencionar as duas mais famosas de Atenas: As Panatenéias e as Dionísias.

5. O culto

Mais que um conjunto de crenças, a religião grega era um conjunto de práticas rituais.

O ato essencial do culto era o sacrifício, existiam também as orações e antes das orações a purificação, que consistia no lavar das mãos.

Para cada divindade havia uma determinada espécie e certo tipo de animal.

6. Vida além Túmulo

Podemos resumir este tema dizendo que na concepção da religião grega os bons após a morte passariam a viver nos Campos Elísios, enquanto que os maus seriam precipitados no Tártaro.



II. A Religião na Roma Antiga

No presente tópico pretendemos de forma concisa apresentar o desenvolvimento cronológico da religião romana através das grandes etapas da História (Realeza, República e Império) desde as obscuras e discutidas origens.

1. Religião Romana Anterior a República

a) Religião Doméstica – A religião doméstica foi um fator decisivo na união das famílias antigas. A religião fez com que a família formasse um corpo nesta vida e na outra. A família antiga é mais uma associação religiosa do que uma associação da natureza.

Cada Família Romana prestava um culto especial a determinadas divindades. Podemos chamar Penates, simplesmente, todos os deuses que recebiam o culto doméstico.

Pode ser incluído o culto aos mortos no estudo da religião doméstica.

b) Religião Oficial – Não é fácil traçar um quadro exato do panteão romano em épocas mais recuadas, pois as fontes não só não oferecem muitas vezes segurança, mas também se prestam a diferentes interpretações. Para um breve estudo dos deuses da religião romana primitiva, o mais seguro é simplesmente, enunciá-los, seguindo-se o calendário romano que registra os nomes de certo número de divindades às quais se prestava culto oficial nos inícios da época histórica. Vejamos alguns exemplos da mesma:

• Angerona - deusa dos mortos

• Carmenta – deusa das fontes

• Ceres – protegia a fecundidade

• Consus – preside a conservação dos cereais

• Janus – um dos maiores deuses da primitiva religião romana

• Juno – protetor das mulheres

• Júpiter – deus da claridade celeste, regedor dos fenômenos atmosféricos.

• Lares – os Gênios protetores da propriedade Rural.

Aqui estão alguns dos muitos deuses da religião romana primitiva.

No Culto que os romanos prestavam a suas divindades observamos o já tantas vezes sublinhado espírito prático que norteou a civilização de Roma. Eles tratavam seus deuses como se com ele tivesse estabelecido um contrato. Os Atos essenciais do culto eram a oração e o sacrifício. Não encontramos, contudo, em Roma uma classe sacerdotal, qualquer patrício podia desempenhar esta função.

2. A Religião Na Época Republicana

Não existe evidentemente, um quadro estático da religião romana. Da realeza ao Império, ela se transformou constante e profundamente.

Na realeza, sob o domínio etrusco, podemos assinalar importantes transformações: como a introdução de uma tríade de divindades supremas: Júpiter, Juno e Minerva.

Uma segunda transformação foi à introdução dos harúspices. Esses adivinhos pretendiam desvendar o futuro mediante o exame das entranhas das vítimas e especialmente, do fígado.

À medida que Roma ia entrando em contato com a civilização grega, novas divindades afluíam à capital, “naturalizavam-se” romanas.

Pelo início do Sec. III AC. Foi introduzido diretamente da Grécia o deus-médico Asclépios, que recebeu o nome Esculápios.

O velho e austero ritual da religião romana foi, paulatinamente, sofrendo a concorrência da suntuosidade litúrgica que acompanhava o culto das divindades helênicas.

No Sec. II A.C outro perigo ameaçou as velhas crenças romanas: A Filosofia Grega. Ceticismo e ateísmo são difundidos pela atraente dos recém chegados intelectuais gregos. Nos meios populares, entretanto, continuava a existir um sentimento religioso. ´É verdade que a religião oficial tendia a uma desagregação completa; a religião doméstica, porém, persistia bem viva nos meios rurais.

3. A Religião No Império

Augusto – A Época de Augusto, “o período mais próspero para a religião romana”, observou-se, com efeito durante seu principado, um reflorescer admirável da religião, promovido diretamente pelo soberano, que acumula em sua própria pessoa diversos sacerdócios, entre os quais o de Pontifex maximus (12 A.C).

Venus Genitrix, Marte, Apolo eram divindades às quais, por razões familiares e pessoais, Augusto rendia culto especial. A Apoteose do Imperador morto e a divinização do soberano vivo são dois aspectos de um novo culto introduzido em Roma na época imperial: o culto ao imperador.

Em Roma, 45 A.C. foram gravadas ao pé de uma estátua do ditador César a inscrição: “ao deus invicto”. Após o assassinato de César, a multidão reclamou a sua divinização, o senado e os comícios colocaram oficialmente o divus Julius entre os deuses da cidade.

A restauração religiosa ocorrida em Roma durante a época da república deu um novo impulso às crenças romanas tradicionais, mas não impediu que prosseguisse a infiltração cada vez mais acentuada, de correntes filosóficas e de cultos religiosos orientais. Entre essas correntes filosóficas salientamos duas, nas quais havia uma acentuada tendência mística: o Estoicismo e o Neopitagorismo. As religiões orientais exerciam maior fascinação e encontraram um campo fértil em Roma.

Vale apena ressaltar que duas religiões, principalmente, ficaram à margem desse sincretismo: o Judaísmo e o Cristianismo.

O progresso do Cristianismo foi gradativo, mas seguramente vencendo e liquidando as velhas religiões.

Em 392, Teodósio proibiu em todo o Império qualquer culto pagão, embora claro que as velhas crenças não desapareceram logo.

Conclusão

Ao concluir este trabalho queria de forma sintética fazer uma breve comparação da das duas religiões:

Em muitos aspectos, essas religiões se assemelhavam, já que possivelmente por se derivar da mesma fonte a cultura de ambos os povos, ambas as religiões eram terrenas e práticas, sem qualquer conteúdo espiritual ou ético. As relações entre os homens e os deuses eram externas e mecânicas, constituindo uma espécie de negócio ou contrato entre as duas partes, a fim de obter proveitos mútuos. As divindades das duas religiões tinham funções semelhantes: Júpiter correspondia mais ou menos, no seu caráter de deus dos céus, A Zeus; Minerva, como padroeira dos artesãos, a Atena; Vênus, a Afrodite, como deusa do amor; Netuno, a Posseidom, como deus do mar, e assim por diante. Tal como a grega, a religião romana não possuía dogmas, sacramentos ou qualquer crença em recompensas e punições numa vida futura.

Havia, contudo, diferenças significativas. A religião romana era nitidamente mais política e menos humanística em seus objetivos. Servia, não para glorificar o homem ou fazê-lo sentir-se a vontade neste mundo, mas sim para proteger o estado contra seus inimigos e para aumentar-lhe o poder e a prosperidade. Os deuses eram menos antropomórficos. Com efeito, somente em resultado das influências gregas e etruscas é que se apresentavam como divindades pessoais, tendo sido anteriormente adorado como “numes” ou espírito animístico. Os romanos jamais conceberam seus deuses em disputas entre si ou envolvendo-se com seres humanos, como acontecia com as divindades homéricas. Por fim, a religião romana continha um elemento muito mais forte de sacerdotalismo do que a grega. Os sacerdotes ou pontífices, como se chamavam, formavam uma classe organizada, um ramo do próprio governo. Não somente dirigiam as cerimônias sacrificiais, mas também eram depositários de um complicado conjunto de tradições sagradas e de leis que somente eles podiam interpretar. Deve ficar claro, no entanto, que tais pontífices, não eram sacerdotes, no sentido intermediário, entre os romanos e seus deuses; não perdoavam, não confessavam pecados nem administravam sacramentos.


Bibliografia:

BURNS, Edwards Mcnall, História da Civilização Ocidental: Do Homem da Caverna até a Bomba atômica – O Drama da Raça Humana. Editora Globo – Porto Alegre – Rio de Janeiro.

GIRDANI, Márcio Curtis, História da Grécia: Antiguidade Clássica I. Editora Vozes. LTDA. Petrópolis RJ. 1972.

GIRDANI, Mário Curtis, História de Roma: Antiguidade Clássica II. Editora Vozes. LTDA. Petrópolis RJ. 1981.

DIRLEY DOS SANTOS

SOLI DEO GLORY