quarta-feira, 22 de junho de 2011

GUERRA FRIA

Com o fim da II Grande Guerra Mundial emergiram do teatro da batalha duas grandes potências bélicas: EUA cuja economia fundava-se no capitalismo e a URSS um Estado formado por diversas repúblicas reunidas pela força centralizadora do Stalinismo.
            Passou a haver um temor constante alimentado pela instabilidade das relações entre essas duas superpotências que passou a ser chamada “Guerra Fria”.
            Segundo Hobsbawn a “Guerra Fria” foi marcada pela constante ameaça de um conflito nuclear, embora não se possa afirmar, com certeza que algum momento preciso se estivesse na iminência de um conflito desta natureza.
            Percebemos segundo as palavras de Hobsbawn que a Guerra Fria foi uma guerra de ameaças, não de confrontos, “apesar da retórica apocalíptica”, jamais houve confronto direto entre EUA e URSS, se não houve uma “guerra quente”, talvez tenha havido como diz Hobsbawn uma “Paz Fria”.
            Embora não tenha havido confrontos diretos entre EUA e URSS, ainda assim pode-se falar em “Guerra”, onde Hobsbawn citando o filósofo Tomas Hobbes, vai dizer que “não é somente a batalha, mas também a clara e expressa vontade de disputar pela batalha durante certo período.” Que vai haver uma guerra. A Guerra Fria foi isso, uma ameaça de ameaças nucleares e de extinção de toda a humanidade.
            Percebemos que de 1945 a 1973, que Hobsbawn vai chamar de primeira Guerra Fria, neste período o mais conturbado momento foi o período da era Trumam e de sua doutrina, onde o EUA apóia os povos livres que resistem à tentativa de subjugação por minoria armada ou por pessoas de fora.
            Hobsbawn pergunta: “Como explicar quarenta anos de confronto armado e mobilizado na sempre implausível suposição – neste caso claramente infundada – de que a instabilidade do planeta era tal ordem que uma guerra mundial podia explodir a qualquer momento, possibilidade essa afastada apenas pela incessante dissuasão mútua? Então, vai afirmar que a Guerra Fria baseava-se numa crença ocidental, retrospectivamente absurda, mas bastante natural após a II Guerra Mundial, de que a Era da Catástrofe não chegara de modo algum ao fim: de que o futuro do capitalismo mundial e da sociedade liberal não estava de modo algum assegurado.” (HOBSBAWN, Eric, Era dos Extremos. Pg. 228)
            O que podemos entender desta afirmação de Hobsbawn é que o EUA acreditava que o mundo pós-guerra mergulharia numa Crise sem precedentes, com problemas que minariam a estabilidade econômica, política e social do mundo. Além disso, a URSS fora favorecida pelo desmoronamento internacional do pós-guerra, propiciando a ela a influência sobre extensas áreas do mundo, especialmente na Europa. Um bom exemplo desta instabilidade foi à ameaça francesa de adotar o regime comunista se o EUA não favorecesse ajuda financeira ao país.
            Mas ao contrário do pensamento americano, contudo, a URSS não demonstrava interesses expansionistas, já que não avançou para além das fronteiras estabelecidas em Yalta. Na verdade, nas áreas controladas por Moscou, os regimes locais (comunistas) não estavam dispostos a erguer Estados semelhantes ao modelo soviético, mas economias sob regime parlamentar multipartidário, muito distinto da ditadura de proletário unipartidária de Moscou (o único Estado Europeu que rompeu com o modelo de Moscou foi à Iugoslávia de Tito, em 1948). Além disso, deve-se considerar que a URSS diminuiu seu Exército de 12 milhões em 1945 para 3 milhões de soldados em 1948.
            “Como a URSS, os EUA era uma superpotência representando uma ideologia que a maioria dos americanos sinceramente acreditava ser o modelo para o mundo. Ao contrário da URSS, os EUA eram uma democracia. É triste, mas deve-se dizer que estes eram provavelmente mais perigosos” (HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos, Pg. 232).
            Afinal, quem foi o responsável pela Guerra Fria. Em minha opinião certamente o medo do mútuo confronto, porém mais acentuado no Ocidente, fundado na idéia de “conspiração comunista”, plataforma política que definitivamente elegeu Robert Kennedy nos EUA, pois como diz Hobsbawn: “O governo americano precisava. Para os dois propósitos, um anticomunismo apocalíptico era útil, e, portanto tentador, mesmo para políticos não de todo convencidos de sua própria retórica...” (Pg. 232). Além disso, um anticomunismo era a plataforma perfeita em um país individualista, construído sobre a propriedade privada, pólo oposto ao comunismo. O que percebemos é que o discurso anticomunista era a oratória para a “manutenção de uma supremacia americana concreta”.
            Nesta primeira fase, a guerra fria inspirou dois conflitos armados de grande relevância: a guerra da Coréia (1950/1953) e a guerra do Vietnã (1965/1975), que se estendeu até o início da Segunda fase da Guerra Fria.
            Juntamente com a Guerra do Vietnã surgiram os primeiros movimentos contra a Guerra Fria, bem como movimentos ambientalistas contra armas nucleares e experimentos nucleares.
            Segundo Hobsbawn, entre as conseqüências políticas e econômicas da Guerra Fria no panorama internacional, podemos identificar resumidamente as seguintes:
  1. Polarizou o mundo controlado por EUA e URSS em dois grupos bem definidos (pró-comunistas e anticomunistas).
  2. Ameaça americana de intervenção na Itália se os comunistas vencessem as eleições de 1948.
  3. Criação da “Internacional Comunista”, extinta em 1953.
  4. Criação de um sistema unipartidário permanente no Japão e Itália, excluindo os comunistas.
  5. Alteração da política internacional do continente europeu. Provocou a reação e a criação da Comunidade Européia em 1957, pelo acordo de 06 Estados (França, Alemanha, Itália, Países Baixos Bélgica e Luxemburgo)
  6. Criação da organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (1949) aliança militar anti-soviética (pactos de Varsóvia), baseada na força da economia alemã rearmada pelos EUA.
  7. Enfraquecimento do dólar com o estabelecimento do “Pacto do Ouro” para estabilização do preço do metal no mercado internacional (a paridade ouro-dólar extinta em 1971, retirando dos EUA o controle do sistema de pagamentos internacional).
            “Em determinado momento do início da década de 1960, a Guerra Fria pareceu dar alguns passos hesitantes em direção à sanidade. Os anos perigosos de 1947 até os dramáticos fatos da Guerra da Coréia (1950) haviam passado sem uma explosão mundial. O mesmo acontecera com os abalos sísmicos que sacudiram o bloco soviético após a morte de Stalin (1953), sobretudo em meados da década de 1950. Assim, longe de ter de lutar contra a crise social, os países da Europa Ocidental começaram a observar que estavam na verdade vivendo uma era de inesperada e disseminada prosperidade...” (HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos. Pg. 239).
            Percebemos segundo a leitura da citação em destaque e da continuação do texto, que o início da década de 60 foi marcado pelo afrouxamento da tensão entre EUA URSS, fato denominado no meio diplomático como détente. Josef Stalin falecera em 1953 ao mesmo tempo em que a Guerra da Coréia havia terminado sem um conflito nuclear. Na URSS Nikita Krushev estabeleceu sua liderança após a morte de Stalin.
            O período de détent se estenderia até o ano de 1973, rompido somente pela crise dos mísseis cubanos em 1952.
            Nesta fase inicial de détente, concluía-se a construção do Muro de Berlin (1961) e se estabelecia a “linha quente” entre Moscou e Washington (1963). Neste mesmo ano, Kennedy foi assassinado em Dallas, Texas; no ano seguinte Krushev seria substituído por Leonid Brejnev, que mergulharia a URSS num “período de estagnação” de 20 anos.
            Neste período de estagnação da URSS, entre 1961 e 1981, estabeleceram-se uma série de tratados sobre o uso do espaço cósmico e controle de armas nucleares: tratados de proibição de testes, tentativas de deter a proliferação de armas nucleares; tratado de limitação de armas estratégicas (SALT) entre EUA e URSS, acordo sobre mísseis antibalísticos (ABMs) de cada lado.
“... O fim da Guerra Fria provou ser não o fim de um conflito internacional, mas o fim de uma era: não só para o oriente, mas para todo o mundo.” (HOBSBAWN, Eric, Era dos Extremos. Pg. 252).
            Realmente podemos concordar piamente com Hobsbawn, o fim da Guerra Fria põe fim numa era de terror que assolou a humanidade durante esses 40 anos, onde a humanidade viveu com um terrível medo de uma guerra nuclear, que poderia estourar a qualquer momento, diríamos que o fim da Guerra Fria foi o fim de uma era de medo.
            De um modo bem geral e resumido podemos apresentar as conseqüências da Guerra Fria e do seu fim:
            Enquanto estava ocorrendo (até antes da derrubada do muro de Berlim) as conseqüências foram à divisão do mundo em dois blocos: Socialista e Capitalista (invasão na América latina dos costumes e ideologia dos norte americanos); a corrida nuclear (acúmulo absurdo de armas atômicas e desenvolvimento de foguetes balísticos); a corrida espacial (destacando: lançamento do primeiro satélite pelos russos, pouso na lua pelos norte americanos, estação espacial pelos russos); medo/certeza da destruição/aniliquilação total da humanidade.
            Depois de acabar, os EUA se consolidaram como "polícia" do mundo; houve a separação da URSS (União Sovietica); houve separação/guerra em vários países do leste europeu; houve "abertura" dos mercados antes Socialistas; o surgimento ou aumento da tal "Globalização" e do "Neo liberalismo".