sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

FILOSOFIA CLÁSSICA

            A filosofia antiga foi marcada, em grande medida, pela investigação da natureza. Era a busca de explicações racionais para o Universo manifestado na procura de um princípio primordial para todas as coisas existentes. Segui-se a esse período uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade.
            Os pré-socráticos diziam que a origem de todas as coisas (ARQUE) estava presente na natureza, diferente do discurso mítico que dizia que a origem de todas as coisas estava fora do mundo, isto é, o discurso mítico tentava explicar a origem de todas as coisas pelo transcendente, pelo divino, os pré-socráticos, diferentemente, tentavam explicar a origem de todas as coisas pelos elementos da natureza, chamado elemento primordial.
            Os pré-socráticos em vez de buscar as causas do mundo fora do mundo, como a filosofia mítica, vão buscar as causas, a origem do mundo no próprio mundo, na natureza, por isso eram também chamados naturalistas, exatamente em oposição ao discurso mítico. A filosofia dos pré-socráticos vai romper com o discurso mítico religioso. Os pré- socráticos vão explicar a natureza de forma racional (Discurso Filosófico) LOGOS – Discurso Racional. Os Filósofos pré-socráticos eram também chamados de físicos, exatamente porque estudava o físico, a natureza.
            Entretanto, chega um momento que a filosofia dos pré-socráticos começa a se desgastar, começa a se esgotar, por alguns motivos: Primeiro pelas próprias contradições existentes entre os filósofos pré-socráticos, na questão da origem de todas as coisas; segundo por causa do surgimento da democracia, surge agora a possibilidade de resolverem as diferenças e divergências existentes nessa sociedade em nome de um interesse comum, através do entendimento mútuo, e de leis iguais para todos; terceiro com o desenvolvimento da atividade comercial, com a consolidação das várias cidades-estados e com a organização da sociedade ateniense, trazendo enriquecimento e fazendo surgir uma classe mercantil e ainda a possibilidade do contato com outras culturas e filosofias orientais. A partir de então as coisas do homem começam a entrar em vigor; a ética, a política, a educação, a moral, o amor etc. Todos esses temas vão ser objeto da filosofia socrática.
Os Sofistas
            Estes não eram considerados filósofos por Sócrates, eram considerados enganadores - Sofisma – Têm aparência de verdade, mas não é – Sofistas - diz coisas que tem aparência de verdade, mas não é verdade. Foram considerados assim porque ao contrário de Sócrates, não acreditavam que a verdade pudesse existir, para Sócrates a verdade está dentro de nós (Inatista), o que falta para as pessoas é educação para conhecer a verdade.
            A postura dos sofistas, demonstrando pouca preocupação com a verdade e muito mais com o argumento, levou Platão a colocar na boca de Sócrates a afirmação de que "Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não sei". Vê-se, portanto que a preocupação dos sofistas é a argumentação e a de Sócrates/Platão é a verdade daquilo que se sabe ou do que se pode saber.
            O período antropológico que também é chamado o período Clássico da Filosofia recebe essa denominação por que nessa época floresceu não só a filosofia, como também as artes e o começo da organização de todo o saber. Principalmente pela atuação de Aristóteles e seus discípulos do Liceu (nome de sua escola, em homenagem ao deus Apolo Lício) floresceu o processo de aquisição e sistematização de vários saberes. A filosofia chegou ao seu apogeu com esses três pensadores que foram uma das maiores marcas da história do saber.
            Falemos um pouco sobre a filosofia destes três pensadores que realmente marcaram a história do saber.
Sócrates
            Tudo o que sabemos sobre Sócrates é somente através dos diálogos de Platão. Sócrates ensinava na Praça de Atenas, dialogando com seus discípulos e interlocutores. Usava a maiêutica e a ironia, como instrumentos metodológicos. Em virtude de sua postura filosófica foi chamado de "inseto", comparado com uma mosca: a mosca de Atenas. Um de seus principais discípulos foi Platão. A doutrina que Sócrates ensinava foi considerada espúria, foi acusado de corromper a juventude.
            Para Sócrates o conhecimento está dentro de nós, se as pessoas erram é porque lhes falta educação. Se conhecessem a verdade que está dentro delas não errariam.
            Sócrates desenvolveu um método para descobrir a verdade – A MAIÊUTICA – Utilizando-se de perguntas até chegar à verdade, com as respostas que eram dadas. Sócrates era inatista, acreditava que a verdade está dentro das pessoas.
            Para Sócrates o processo de Educação é extremamente importante, pois é através dela que se encontra a verdade.
            A Maiêutica Socrática,
            Maiêutica que significa literalmente arte de fazer o parto, uma analogia com o ofício de sua mãe que era parteira. Ele também se considerava um parteiro, mas das idéias. A maiêutica socrática opera inicialmente através de um questionamento de crenças habituais de um interlocutor, interrogando-o, provocando-o a dar respostas e a explicitar o conteúdo e o sentido dessas crenças. Em seguida, freqüentemente utilizando-se de ironia, problematiza essas crenças com que o interlocutor caia em contradição, perceba a insuficiência delas, sinta-se perplexo e reconheça a sua ignorância. É este o sentido da célebre fórmula socrática “só sei que nada sei” a idéia de que o reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria. A partir daí, o indivíduo tem o caminho abeto para encontrar o verdadeiro conhecimento (epistem), afastando-se do domínio da opinião (doxa).
Platão
            Platão nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre prosápia. Temperamento artístico e dialético.
            Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais velho do que ele quarenta anos - e gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros socráticos para junto de Euclides, em Mégara. Daí deu início a suas viagens, e fez um vasto giro pelo mundo para se instruir (390-388). Visitou o Egito, de que admirou a veneranda antigüidade e estabilidade política; a Itália meridional, onde teve ocasião de travar relações com os pitagóricos (tal contato será fecundo para o desenvolvimento do seu pensamento); a Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa e travou amizade profunda com Dion, cunhado daquele. Caído, porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.
            Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia. Adquiriu, perto de Colona, povoado da Ática, uma herdade, onde levantou um templo às Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.)
            Quando Platão tem contato com os Pitagóricos e os Eleatas, então começa a se distanciar de Sócrates e então começa a formular a sua própria filosofia. Uma coisa interessante que percebemos é que o mundo ocidental é muito influenciado pelo platonismo.
            Segundo Platão todas as coisas são cópias, é o mundo sensível, existe outro mundo chamado mundo das idéias (das formas) onde está a verdade, o mundo sensível é somente cópia deste mundo das idéias. Poderíamos sintetizar o pensamento de Platão da seguinte forma: 
Mundo das Coisas                                                    Mundo das Idéias    
Cópias                                                                                 Inteligíveis
Sensível                                                                               Mundo de formas puras
Imperfeito                                                                            Perfeito
Ninguém tem a verdade                                                   Mundo da Verdade
Não podemos conhecer nada, 
temos uma idéia que                                                        Real
trazemos dentro de nós.

           



O Mundo das coisas é o que percebo pelos meus sentidos, entretanto para chegarmos ao mundo das formas somente através da razão.
            Para Platão só quem conhece o mundo das idéias é quem conhece a verdade. O filósofo pode conhecer a verdade, por isso que para Platão quem deveria governar o mundo deveria ser os filósofos.
Aristóteles
            Para Platão o que vale é o mundo das formas puras, a verdade está no mundo das idéias, no mundo inteligível, Aristóteles que foi discípulo de Platão vai ter outra opinião.
            Aristóteles vai trazer o mundo das idéias para dentro do sensível. Aristóteles vem com a idéia de que a realidade não é dupla conforme Platão afirmava com a sua teoria do mundo das coisas e o mundo das idéias, para Aristóteles não existe uma dualidade, o que existe são as coisas individuais.
            Ele percebe que aquelas coisas que Platão falou não procede, o que existe são as coisas, o dual são partes constitutivas. O mundo que nós vivemos é o mundo das formas e da matéria.
            A forma enforma a matéria e constitui o sínolo, a substância é formada de matéria e forma, o que existe é a coisa, isto é, se você quer conhecer a realidade, você tem que conhecer a coisa, o indivíduo, por isso Aristóteles vai valorizar o conhecimento sensível, pois o primeiro contato se dá através do sentido, até chegar o mais perfeito que o conhecimento teórico. Todas as coisas são compostas de matéria e forma.
Ato e Potência: É como Aristóteles explica o movimento, a transformação, as coisas se modificam algo que está em ato passa pela potência e se transforma em outro ato, aí o sínolo se transforma em outro sínolo.
            Tudo é composto de matéria e forma, quando acontece a transformação a forma se desconecta da matéria, entretanto quando se forma outra substância, se forma outro ato e há um novo composto de matéria e forma – A potência é a possibilidade de vir a ser.
            Por isso o ato é mais perfeito do que a potência, por que a potência é a possibilidade de vir a ser, mais ainda não é.
            Para Platão o conhecimento era inato, para Aristóteles o conhecimento se dá a partir das coisas individuais

 

RAZÃO E FÉ – IDADE MÉDIA

RAZÃO E FÉ – IDADE MÉDIA
           Platão foi à grande referência no período medieval. O cristianismo vai ser grandemente influenciado pelo platonismo e vai ser Agostinho de Hipona o grande propagador do platonismo, Aristóteles só voltará a ter importância a partir do século XIII, com São Tomás de Aquino.
            È importante entender que para o cristianismo ter sido propagado nos três primeiros séculos, foi necessário cooptar a língua e a filosofia grega, pois o mundo daquela época o que imperava era a cultura grega, pois embora o Império Romano houvesse conquistado o mundo e também os gregos, os gregos conquistaram o Império Romano culturalmente e cooptar a língua e a filosofia grega era de extrema importância para a propagação do cristianismo.
Como aconteceu este processo?
            Depois da diáspora (ano 70 dC), várias colônias judaicas se formaram por vários lugares do império Romano – Filon, o Judeu foi a primeiro a travar esse diálogo entre religião judaica e a cultura grega – helênica e o cristianismo seguiu o seu exemplo.
            A partir das comunidades judaicas começou esse processo, atingindo primeiro o povo mais simples, até alcançar os estratos superiores desta sociedade, como imperadores, por exemplo, isto no século IV – então o império se torna a religião oficial do império.
            O cristianismo de alguma forma correspondeu à necessidade daquela sociedade, algo da moral cristã se coadunou a moral romana helenizada, uma moral paternalista.
            O cristianismo ao utilizar de várias coisas dessa sociedade vai facilitar em muito a sua propagação, primeiro a língua e depois a filosofia – por exemplo, como explicar Jesus Deus e Homem, Trindade, Transubstanciação, Logos e outros termos difíceis? Foi necessário usar a filosofia grega para tornar a mensagem do cristianismo entendível àquela cultura. Foi necessário o cristianismo dialogar com o mundo helênico-romano absorvendo elementos desse mundo para que a mensagem do cristianismo fosse entendida e aceita. Portanto o cristianismo paulatinamente foi absorvendo e sendo absorvido pelo mundo helênico-romano.
            Os pais da Igreja foram os responsáveis por fazer esse “diálogo” com a filosofia grega, estes que foram formados nas academias dos filósofos e se converteram ao cristianismo, foram estes que compuseram os credos da igreja, eram do lado oriental. 
            Foi, porém, com Santo Agostinho que o cristianismo foi trazido para o ocidente, este é um marco no cristianismo. Agostinho é o homem de uma transição de época, o mundo medieval vai ser pautado no pensamento filosófico-teológico de Agostinho e o Platonismo será a filosofia predominante em Agostinho e no período medieval.
            Na filosofia medieval Razão e Fé vão colaborar reciprocamente, elas não vão se opor. Os filósofos medievais chegaram à conclusão que a razão pode chegar por outro caminho àquilo que a fé sabe. O objeto da fé é algo que jamais se saberia se não tivesse sido revelado por Deus, por exemplo, eu jamais poderia alcançar com minha razão, com a lógica humana. Ex. Deus se fez homem, como eu saberia isto se não fosse revelado? e outras coisa como imortalidade, trindade, hipostase etc. Então os cristãos medievais pensaram o seguinte: Deus revelou o objeto de fé, mas a razão humana pode alcançar por outro caminho sobre a verdade da fé, isto é , razão e fé não se opõem, colaboram entre si, entretanto a fé prepara a razão , guia, direciona e a razão colabora no entendimento da fé, essa idéia que vai valer durante toda a Idade Média – fé e razão não se opõem.
            Se Deus revelou a verdade, a razão só pode concluir juntamente com a fé, se a razão humana está correta ela só pode constatar conjuntamente com a Bíblia, já que a Bíblia é a revelação de Deus e contêm a verdade. A razão só tem um caminho, constatar a verdade, se Deus revela a verdade, a razão entende e deve se submeter a Ela.
            Há um esforço destes cristãos (medievais) de fazer se pensar que os filósofos gregos fizeram uma preparação para o cristianismo, sendo que o cristianismo seria a verdadeira filosofia. A filosofia grega teria pavimentado a chegada do cristianismo, entretanto o cristianismo seria a verdadeira filosofia, isto porque os filósofos gregos faltavam à fé, só em Jesus se tem a plenitude da revelação. A filosofia grega foi o chão onde o cristianismo se assentou, foi uma preparação. Cristianismo e filosofia grega fizeram uma amálgama, a filosofia foi um suporte, uma servidora do cristianismo. Durante toda a Idade Média isso vai valer.
            Os filósofos cristãos cristianizaram a filosofia grega, com isso a filosofia perde seu caráter crítico. A filosofia cristã vai selecionar aquilo que não se opõe as questões da fé, vão cristianizar Platão, Sócrates, Aristóteles etc.
            A partir da patrística fé e razão passam a contribuir e esse pensamento vai prevalecer no período medieval: Não basta apenas eu crer que Deus existe a razão tem que provar essa realidade.
            Para os medievais não bastava apenas crer, era necessário que a razão comprovasse, um argumento que vai tentar provar racionalmente a questão da existência de Deus vai ser o argumento Ontológico de Stº Anselmo (a Escolástica tem início com Santo Anselmo), que é uma prova racional de que Deus existe que consiste no conceito de Deus como um Ser Perfeito deriva-se a sua existência e que, portanto, alguém que entenda esse conceito não pode coerentemente duvidar da existência de Deus. Essa prova segue a linha do objetivo de Santo Anselmo de conciliar razão e fé. Aquilo que a fé nos ensina pode ser entendido pela razão e a filosofia ajuda a argumentar em favor disso e caracteriza bem o estilo da escolástica ao utilizar a filosofia – sua forma de argumentar, seus conceitos básicos – em defesa de questões religiosas e teológicas.
            A Escolástica vai entrar em crise com Guilherme de Ockhan, que vai ter uma posição nominalista. Guilherme de Ockhan vai dizer que não existe lógica entre fé e razão, a fé não tem nada a dizer a razão e nem a razão tem nada a dizer a fé, Isto porque em Deus não existe lógica, porque Deus antes de tudo é vontade absoluta. O Pensamento de Guilherme de Ockhan vai ser a fase embrionária, podemos dizer assim, do pensamento Moderno, que vai se opor diametralmente ao pensamento filosófico medieval.