quarta-feira, 17 de novembro de 2010

REVOLUÇÃO CULTURAL EM ERIC HOBSBAWN - ERA DOS EXTREMOS

           I. Reestruturação da família construindo diferentes formas de relacionamento.
“A melhor abordagem dessa revolução cultural é, portanto, através da família e da casa, isto é, através da estrutura de relações entre sexos e gerações” (p. 314.)
·         Legalização e aumento do divórcio e aceitação dos relacionamentos bissexuais;
            A instauração da crise familiar estava intimamente ligada à mudança de padrões públicos que governavam a conduta sexual. A formação de família que fugia às “regras” ficou cada vez mais freqüente. Entre as décadas de 1960 e 1970 houve uma liberalização tanto para os heterossexuais quanto para os homossexuais em diversos países. O divórcio tornou-se legal em 1970 e a venda de anticoncepcionais foi legalizada em 1971.
·        Presença de grande número de núcleos familiares constituídos de uma só pessoa ou de mulher, como sendo a responsável direta pela educação e criação dos filhos;
            Uma das mudanças que ocorreu na segunda metade de século XX foi nos núcleos básicos familiares, onde começaram a mudar com uma grande velocidade, havendo uma diminuição de casamentos formais, não havia mais tanto desejo de se ter filhos, encadeando assim o aumento de separações. As mudanças afetaram fortemente as famílias, tornando coisas antes inaceitáveis, compreendidas.
            Caracterizando assim a mudança das famílias tradicionais (com muitos membros), para um novo modo de família (constituídas por poucos membros, ou ate mesmo apenas um).
  • Os padrões morais, religiosos e consuetudinários que vigoravam até então passaram a ser obsoletos.
            Uma das grandes mudanças ocorridas foram às mudanças nos padrões morais e religiosos e consuetudinários, fatos antes proibidos agora se tornam permissíveis, através de Leis permissivas, sem dúvidas tornando mais fáceis atos até então proibidos.
II.                2º Culto à juventude com profunda mudança nas relações entre as gerações.
“Pois se divórcio, nascimentos ilegítimos e o aumento de famílias com só dos pais (isto é, esmagadoramente de mães solteiras) indicavam uma crise na relação entre os sexos, o aumento de uma cultura juvenil específica, e extraordinária forte, indicava uma profunda mudança na relação entre as gerações”. (p. 317).
            Número espantoso de jovens resultantes do baby boom dos anos pós 2ª Guerra Mundial;
            Juventude torna-se um mito a ser cultuado no íntimo de cada um;
            Grandes ídolos da música, do cinema e mesmo dos esportes foram consagrados por sua vitalidade juvenil e, muitos deles, encerram sua vida nesta própria juventude. Como: James Dean, Janis Joplin, Brian Jones, Bob Marley, Jimi Hendrix e outros.
            Viver o presente tornou-se a grande e possível meta de vida;
            Os papéis das gerações foram invertidos, o blue jeans, despojado e irreverente, que até então servia para os jovens distanciarem-se de seus pais e de todos os valores morais que contestavam, passou rapidamente aos corpos mais envelhecidos que almejavam preservar os “verdes anos”;
            Uma cultura jovem global foi reafirmada constantemente devido aos interesses do mercado capitalista que, apossando-se dos símbolos de juventude e consumo deste grupo, reformulou suas estratégias de venda e produção.
            A juventude tornou-se o maior produto a ser consumido.
            A juventude tornou-se um agente social independente, foi responsável pelo crescimento da indústria fonográfica e da radicalização política na década de 1960.
            Os jovens começaram a dominar as economias de mercado, por representarem agora uma grande massa de poder de compra. Esse poder de compra se consolidou quando houve um extraordinário internacionalismo entre jovens de todo mundo. O rock foi um exemplo da “marca” da juventude moderna. “Letras de rock em inglês muitas vezes nem eram traduzidas. Isso refletia a esmagadora hegemonia cultural dos EUA na cultura popular e nos estilos de vida…” (Hobsbawn, p.320). O público feminino foi o mercado que faltava nas indústrias da moda. As mulheres, relativamente bem pagas e não comprometidas com contas, começaram a gastar com roupas, sapatos e acessórios, enquanto os homens em cerveja e cigarro. “A cultura jovem tornou-se a matriz da revolução cultural no sentido mais amplo de uma revolução nos modos e costumes…” (Hobsbawn, p.324). Na década de 1950 os jovens de classe média e alta começaram a aceitar a música e as roupas das classes mais baixas, por vezes tornando-as modelo
III.  Formulação de Uma Nova Economia,
“A Cultura jovem tornou-se a matriz da revolução cultural no sentido mais amplo de uma revolução nos modos e costumes, nos meios de gozar o lazer e nas artes comerciais, que formavam cada vez mais a atmosfera respirada por homens e mulheres urbanos” (p. 323)
“A novidade da década de 1950 foi que os jovens das classes altas e médias, pelo menos no mundo anglo-saxônico, que cada vez mais dava a tônica global, começaram a aceitar a música, as roupas e até a linguagem das classes baixas urbanas, ou que tomavam por tais, como seu modelo” (p. 324)
            Houve uma grande agitação por parte dos jovens, com o capitalismo firmado na época, os empregos tiveram um grande alto e com isso os jovens foram sendo empregados e conseqüentemente tendo o poder de compra na mão e assim conseguindo a liberdade financeira.
            Revolução cultural então pode ser entendida como o “triunfo” do individuo sobre a sociedade. Nela o jovem foi o grande pilar, rompendo com idéias passadas, formando um novo modo de pensar e agir, mudando estilos, o que escutar e vestir. Nessa revolução prevaleceu às vantagens históricas do capitalismo e a dificuldade de viver sem ele.
           
IV.  Exacerbação do individual sobre o social
“A revolução cultural de fins do século XX pode assim ser mais bem entendida como o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam os serem humanos em texturas sociais.” (p. 328).
“As instituições mais severamente solapadas pelo novo individualismo moral foram à família tradicional e as igrejas organizadas tradicionalmente no Ocidente, que desabaram de uma forma impressionante no último terço do século.” (p. 330)

            O que percebemos é que para Hobsbawn a revolução cultural estabeleceu ‘o triunfo do indivíduo sobre a sociedade’ ou ‘o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos a texturas sociais’, pois, essas texturas consistiam em configurar modelos de comportamento, sempre de acordo com as expectativas das pessoas, umas com as outras. (p.328). Instituições como igreja e família tradicionais foram as que mais ‘solaparam’ com este ‘novo individualismo moral’. Queda de vocações para o sacerdócio e crises de autoridade moral e material da igreja sobre os fiéis também reiteram o fato de que novas regras de vida e de moralidade foram implantadas com a ‘revolução cultural’. O fato é que a ‘sociedade industrial moderna, até meados do século XX, dependera de uma simbiose da velha comunidade e velhos valores com a nova sociedade’ (p.333).
            As importantes considerações destacadas por Hobsbawm, a partir de meados do século XX, representam uma ‘simbiose’ entre velhos e novos processos configurados no âmbito familiar. Todos os elementos delineados na relação família-mulher e na ‘revolução cultural’, especificamente relacionados com a família, fazem evidenciar as regularidades das estratégias familiares. É mais plausível considerar que estes fatos históricos correlacionados com a família são ‘disposições duráveis’, inseridas nestes ciclos de vida dos seus agentes. Esses ciclos devem ser interpretados, levando-se em consideração situações concretas de tempo e de lugar que tendem a ser produzidas e reproduzidas nas gerações futuras.